Eu sei, o título dessa postagem não é nada original. Primeiro, por que é um plágio muito do sem vergonha do nome de um livro que - guardadas as devidas proporções - talvez tenha o mesmo objetivo deste texto, sendo que este, obviamente, é uma empreitada muito mais tímida. O livro ao qual me refiro chama-se: Mais Platão, Menos Prozac, e o objetivo em comum seria discutir o uso de certos medicamentos "comportamentais", por assim dizer, que podem ser perfeitamente suprimidos quando refletimos de maneira mais apropriada sobre as querelas do nosso cotidiano.

Nesta entrevista, a Dra. Maria Aparecida afirma peremptoriamente que não "daria" Ritalina a uma criança, ainda que estivesse convencida que seu problema se tratava de uma patologia. A entrevistadora, em seguida, pergunta-lhe o que ela "daria", então. - Talvez Rita Lee, retrucou a Dra.

É verdade que a inclinação para a medicalização do fracasso escolar não é algo recente na história deste conturbado relacionamento entre educação e saúde no nosso país. O artigo da Patrícia Zucoloto (2007) revela que já no século XIX havia esta tendência de considerar como doentes aquelas crianças - mormente as menos privilegiadas economicamente - que não conseguiam aprender o que a escola tentava lhes ensinar. Todavia, com o notável desenvolvimento da indústria farmacêutica e sua produção em larga escala, aliado à concepção dominante de que "mais em menos tempo" é sempre melhor, fica mais difícil encontrar pessoas que estejam dispostas a investir tempo e esforço (e talvez dinheiro) para solucionar os problemas estruturais que determinam o nosso modo de vida.
Essa prática de contornar o enfrentamento das questões educacionais, tanto no nível macro (políticas educacionais) quanto no nível micro (concepções e práticas de ensino), torna-se cada vez mais nociva. Isto por que é cada dia mais fácil tomar-se o atalho mais curto, mas sempre muito mais arriscado, da intervenção bio-química, que incide diretamente sobre os sujeitos. Adequamos, com isto, os indivíduos a uma estrutura que produz, ela mesma, patologias, deixando-se o entorno intacto.
